Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

sábado, 29 de novembro de 2014

ESTAMOS TESOS QUE NEM... BIROTES! ORA "BIRA" E TORNA A "BIRAR"

Neste virote de vida em que vivemos, deitando fora a condição de alegria constante, para afivelarmos um fácies hirto e carrancudo, parecemos de facto mais barrotes mortos, hirtos, inflexíveis.
E até os carapaus já parecem fugir de nós das águas e, logo, do prato, como diabo fugindo da cruz, fartos que os comparem a «Estamos tesos que nem carapaus», ou «Estamos tesos que nem barrotes», ou ainda, «Estamos tesos que nem virotes» que, para quem não sabe, são setas curtas, fortes e grossas que também pode ter uma formulação ou versão nortenha: «Estamos tesos que nem "birotes"».
© PAS (Pedro A. Sande)

GRAFORREIA

Estaremos nós, os que dedilham como se não houvesse amanhã, submetidos a essa terrível peste chamada de graforreia? 
Essa necessidade permanente, imperiosa e irresistível de escrever... Fará ela parte de um pesado quadro sintomatológico que nos aponte outros distúrbios como a esquizofrenia?
Não me parece que esta última exista, mas a graforreia preocupa-me seriamente.
Mas também entre outras formas da família como a Gonorreia ou a Verborreia, que é mais sintomaticamente colectiva, esta parece-me bem mais simpática; embora se saiba por experiências anteriores possa atacar músculos como os glúteos ou nadegueiros.
E ninguém quer ser nesta sociedade de consumo imediato, um bunda mole, pois não?!
© PAS (PEDRO A. SANDE)

A PARANÓIA CONSTITUCIONAL DE PESSOA

A todos aqueles que acham que a escrita só é escrita quando não ofende os cânones, a liberdade da escrita deve resistir a todas as comparações e alcandorar-se ao seu lugar: escrevei pois então sem medo, o futuro vos julgará com o polegar colocado no seu devido lugar!
E deu-nos o lugar o JAM. Leiam sobre os torcidos de Pessoa : http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/12533.pdf

Diz JAM, José Adelino Maltez, sobre citação de Mário Saraiva: Sofre (Pessoa) de "esquizofrenia mista de hebefrénica e paranóica ... um definido psicopata, com fortes perturbações da razão e do discurso". O pior é a "graforreia ... necessidade permanente, imperiosa e irresistível de escrever...pesado quadro sintomatológico da sua esquizofrenia" (Mário Saraiva)

Vasco Graça Moura, que Deus o tenha, tinha esta coisa desagradável, de se irritar mais com as pessoas do que com a escrita: «Mais tarde, Graça Moura haveria de declarar numa entrevista: «Não sei se gostarei de dez por cento daquilo que [Pessoa] escreveu, embora eu seja muito marcado, na minha poesia, como quase todos nós. (...) O Pessoa irrita-me em grande parte (...) Mas, mais do que isso, irrita-me a liturgia, o exercício sacralizante em redor da sua figura. É irritante e injusto (...) há muitos nomes que têm sido prejudicados por essa corrida a Pessoa» O sentimento de injustiça tem esta coisa irritante de se tornar em sentimento de inveja...
© PAS

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O VELHO LOBO DO... LIVRO

Hoje apetece-me partilhar algo. Esta entrevista do Lobo no meio dos cordeiros. É estranho, li pouco do Lobo Antunes. Li-lhe os primórdios: o Cu de Judas e a Memória de Elefante e mais um ou dois mais recentes.
Mas sempre tive uma enorme admiração pelo Homem, aquele que diz «já não tem a desculpa da surdez para fingir que não ouve». O Homem com o devido H é genial. Mesmo se tresanda a sobranceiro. Uma falsa sobranceria, de laivo irónico. E este sentido de ser monge, num lugar tantas vezes abjecto e disforme é verdadeiramente genial. "Gabo-lhe" um sentido de vida que talvez não fosse tão certo, como desejado. Não o invejo porque também tenho este sentido de liberdade e esta falsa vontade de me flagelar: e é de liberdade que devemos falar deste velho lobo... do Livro.    
http://visao.sapo.pt/antonio-lobo-antunes-nao-tenho-muito-jeito-para-viver=f802105
© PAS

terça-feira, 18 de novembro de 2014

GEORGE

«PAS FB comments are the avatar of Moolb in the "Reverse of Bloom".
If you liked Obsession Odete, you will like Reverso even more (George Meirelles)»

O meu amigo George Meirelles é, como eu, um antigo nadador. E uma vez nadador, sempre nadador. Para um nadador, os objectivos mínimos a atingir amanhã terão sempre de ser melhores do que os atingidos ontem. Só assim nadar num espaço fechado faz sentido. O mesmo se deve ter como objectivo na escrita. O próximo livro terá de ser necessariamente melhor do que o anterior. Com sentido de urgência: que cada dia que vivemos é um dia a mais que consumimos dos poucos com que somos agraciados.
© PAS (Pedro A. Sande)

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

OBSESSÃO

«Mas parei, entretanto, numa loja forrada a película transparente. Daquelas que dão recato e privacidade ao seu interior, mas que não nos recatam das suas entranhas, como se a rua fosse agora um aquário cheio de peixinhos coloridos, daqueles vermelhos, redondos, gordinhos, ou daqueles esguios e com grandes plumas. Isto sem falar em todo o outro tipo de fauna piscícola que abundava pela baixa. Olhando do lado de fora, a vidraça transformara-se por instantes num pequeno aquário que reflectia vários pisces de cores diferentes e uma enorme pisciana com o rosto movido a piedade da minha sogra; que os afeiçoava nas mãos e lábios, roubando-lhes festinhas e ósculos que os desengorduravam, como fazem aquelas esponjas que nos removem as células mortas. Felizmente que um ruído e um estremecimento forte vindo das vísceras da terra fez desaparecer, como seixo ou fezes de pomba num plano de água, essa imagem tão desagradável. Com os olhos colados à vidraça vi um balcão com um enorme cartaz que dizia: terapia Reiki. Esse nome não me era estranho. Intrigado, lá entrei para tentar perceber o seu significado. Por detrás do balcão estava uma mulher magra, elegante, espampanantemente vestida, com umas unhas enormes avermelhadas e um batom que lhe dava um alto-relevo aos lábios:..»
© (PAS, Obsessão, pag. 88)

URBE-NEGRA

Diz o extraordinário Luís MONTENEGRO, ou CIDADANIA NEGRA, se o quisermos qualificar na sua realidade:
«O País está melhor, os Portugueses é que não!» Diz sem se rir, mas com um laivo de maldade e ironia no rosto, como dizia Himmler, até receber na face sangue e miolos de executados, na grande solução final e antes de se afundar no seu próprio vómito.
Entretanto o Grande Marcelo continua, semana após semana, maquiavélica, delirantemente, a atirar veneno e penas para o grande ecrã, manejando com destreza mas já sem eficiência, a sua escorreita língua bífida, viperina roubada, lábia liperina rasgada escondida, não se sabe se aos anjos se aos demónios.
E entretanto nessa urbe-negra, cada vez mais cinzenta, cada vez mais inabitada, os homens e as mulheres abatidos e abatidas, mil vezes escravizados pela canalhocracia, arrastam-se no silêncio da amargura, desprovidos de pão, de locomoção, de ilusão, de esperança.
Arrastados para debaixo das pontes por essa máquina humana, certeira, por esse programa que retira aos seus o tecto, o pão, a esperança através dessa solução eficiente chamada penhora, um Zyklon B quase tão eficaz no genocídio como as valas varridas a invólucros de balas certeiras na nuca.
Vendem-se entretanto com ferocidade e olhinhos pequeninos de ganância, de ambição, de rapina, os últimos pãezinhos que ainda alimentavam algumas bocas.
Ali foi uma que se chamava CIMPOR, outra PT, outra EDP, ali outro acidente que se chamava TAP, enquanto os coringas e os palhaços desta Gotham City do outro lado do Oceano, assaltam crianças, jovens, mulheres e velhos, retirando-lhes o último pão da boca e rindo-se alarve e criminosamente nas suas faces.
PORTUGAL ESTÁ MELHOR, "tonitruam" eles aos sete ventos!
PORTUGAL ESTÁ MELHOR, dizem eles aos quinhentistas de uma única nota, escravizados em falsos estágios.
PORTUGAL ESTÁ MELHOR, dizem eles ao 1,1 milhão de Portugueses que, um tipo chegado de motorizada com um diploma nota doze e babete de menino-escola, seguindo como cão farejador em tudo o seu mestre, fazendo de conta que não vê, não por que seja cego, mas por ter como muitos cegado no caminho, amanuense de facto, assistencialista de lei, manipulador centesimal e profanador legal de borracha, apagando este dado aqui e ali, esta evidência aqui e ali, um despojado da leitura de Hannah Arendt, que viu a carnificina não só como resultado de um homem, de um louco, de um delirante ou de um psicopata qualquer, mas dos seus acríticos, rafeiros e fiéis seguidores.
Por que isto de ser PP, é mais do que se ser jurista, ou o paneleiro que faz entre outras coisas, peças, panelas, ou o ferreiro que ferra em aço mole ferragens e, entre coisas, ferra na cidadania, ferreiro espeto mau, ou espeto o pau, ou peixeiro de praça, ou jeitoso ardiloso de jornais, isto de ser PP é ser feirante e comerciante de ovelhas, levando-as bem encarreiradas para o matadouro, enquanto se canta a várias vozes, a do paneleiro, a do jurista, a do ferrador, a do ilusionista, O PAÍS ESTÁ MELHOR, O PAÍS ESTÁ MELHOR, dizendo a uma só voz perante as valas recheadas de cadáveres, de velhos enterrados vivos, de jovens atirados para outros quintais, de qualificados esmagados em casa fechados na vergonha de quatro paredes, pelo amiguismo, pela canalha DA LOCUPLETAÇÃO, de mulheres tantas vezes obrigadas a alçar as pernas à canalha, ESTOU NO TOPO DO MUNDO, dizem os anões em delírio, finalmente sentindo-se gigantes, as mulheres humilhadas para dar um trago de leite aos filhos.
FIZ TUDO POR AMOR AO REICH, NESTE CASO A PORTUGAL! dirão por fim quando forem cuspidos como indesejáveis, depois de vomitados como personnas não gratas a este corpo esvaído.
(...)
E, entretanto, diz o THE NEW YORK TIMES: PORTUGAL está desolador!
Não, não, rebatem eles do alto da sua ignomínia: PORTUGAL ESTÁ MELHOR, O POVO É QUE TEM FALTA DE SENSIBILIDADE!
© PAS (Pedro A. Sande)

domingo, 16 de novembro de 2014

OS DESCRENTES

Há quem não goste do discurso da decência.
Há quem ache que a defesa da ética e da decência não tem lugar no mundo e que é sempre suspeita.
Pois eu digo que precisamos de quem seja capaz de resistir aos lobbies e de não nos deixarmos corromper por mais que se diga todos terem um preço!
É verdade: todos temos um preço!
Mas talvez nem todos sejam iguais.
Talvez o melhor preço seja o de podermos morrer com a consciência tranquila de querermos deixar um mundo mais decente aos vindouros!
E esse preço vale muito mais do que qualquer outro que nos diga que o inferno na terra não se pode aproximar mais do paraíso do céu!
Quem afinal tem medo da decência?
© PAS

CONSCIÊNCIA DO PASSADO


A cobra que aqui vemos (SE CARREGARMOS EM WATCH ON VIMEO) a cobra que aqui vejo, eu que sou Lisboeta, filho, neto e tetraneto desta terra, é a consciência do nosso passado e acima de tudo a consciência dessa praça da Inquisição que foi nos consumindo até à Tempestade Perfeita.
Será que temos consciência de que é necessário apagar de vez o fogo que nos foi consumindo, como uma serpente maldosa que lança fogo?
E que esta Praça onde se corporiza o nosso passado passe de vez a ser apenas um lugar onde nos confrontamos com a necessidade de sermos diferentes, mais intensamente solidários e construtivos? 
© PAS

A MINHA GRAMÁTICA SOU EU E O OUTRO

Diz Steiner que «por gramática (dos tempos) deve-se entender a organização articulada da percepção, da reflexão e da experiência, a estrutura nervosa da consciência quando esta comunica consigo própria e com os outros».
Fernando Pessoa podia assim dizer que «a minha gramática é a língua do EU no OUTRO». 
Bem como uma obra sou EU escrito e reescrito numa plataforma, a minha percepção, a minha experiência, a minha reflexão, sobre essa experiência e percepção, dos seres e das coisas, venham esses instrumentos de "uso" de uma árvore ou da transformação meticulosa das coisas.
Nada substitui a gramática dos tempos.
© PAS  

sábado, 15 de novembro de 2014

DIMENSÕES DA GEOGRAFIA DA CRIAÇÃO



Cânone Ocidental e Gramáticas da Criação respectivamente de Harold Bloom e de George Steiner, dois livros a reler regularmente.
Um olhar que (mais do que Ocidental) é a outra dimensão da criação. 
© PAS

DO PRÉMIO LEYA: OPINIÕES; A OPINIÃO DE RIÇO DIREITINHO

«Armar ou não ao literário?»
Estando a acabar de ler a primeira obra de Ana Margarida Carvalho, filha do escritor Mário de Carvalho, o «Que importa a fúria do mar», finalista de um dos anteriores prémios LeYa, não tenho dúvidas da sua qualidade para uma primeira obra.
Independentemente da suspeição e coincidência de um país grupal e de famílias, Ana Margarida Carvalho, jornalista de profissão, fez um livro de qualidade dando garantias que um próximo livro não defraudará os leitores. Aliás, sou da opinião que a escolha de um autor premiado devia não passar por uma obra, mas pela sua definição e ambição como escritor, pela análise da sua obra publicada ou impublicada, pelo estado da sua maturidade, algo que nunca se pode aferir instantaneamente ou numa primeira obra.

Concordo também com a avaliação de José Riço de os prémios LeYa terem alguma falta de maturidade literária (aqui até incluo o José Ricardo Pedro), de serem vítimas de uma geometria muito recorrente e de uma matriz muito pouco inovadora, bebendo na sistemática exploração de um universo rosa, da estória de cada um da nossa vida, possivelmente pela opção clara da LeYA em premiar iniciados dentro de uma determinada faixa etária, tornando-os e integrando-os como putativos escritores do Grupo (não nos esqueçamos que em trezentas e tal obras a concurso só cinco chegam para leitura do júri, as outras passam pelo crivo de exclusiva responsabilidade do grupo).

Ouvi, através de um vídeo, partes da obra do novo premiado. Infelizmente, mas não com surpresa, o trecho que ouvi achei algo fraquinho. Fez-me lembrar a minha escrita dos vinte anos. Claramente um estilo iniciático a quem ainda falta mundo. Mas repito, aquilo que ouvi (que é uma tendência e um sinal), não gostando de tomar a parte pelo todo.
A literatura não pode ser apenas cruzamento de leituras, ou colagem de mundos exteriores passados ou futuros, tem de ser cruzamento de vidas próprias, já que na escrita literária está necessariamente muito de camadas do autor: sangue, suor, lágrimas e obviamente uma visão geral e não apenas periférica de um mundo holístico e global. A nossa literatura menos escorada ainda na experiência e no tempo, com as óbvias excepções obviamente, tem aliás esse andar manco, coxo, ao apoiar-se demasiado no local e pouco no global; o glocal, esse, sim, parece algo mais sólido.

Mas oiçamos agora a opinião do José Riço Direitinho, crítico literário e autor do «Breviário das más inclinações» que será a minha próxima leitura e a quem mundo parece não faltar.
© PAS (Pedro A. Sande)

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O FOG E OS FILHOS DA POLIS

«Acabei de cometer o pecado de deixar cinco minutos depois da hora a viatura perto do Meu Palácio. Um fiscal, daqueles da EMEL, já que na cidade branca são já mais os fiscais do que os fiscalizados, olhou para mim com ar displicente mas justicialista, a quem foi cometido autoridade e poder de discrição. Fui lá buscar o prémio APE da filha de peixe sabe escrever, do Mário de Carvalho (desconhecia!), a Ana Margarida de Carvalho. As primeiras vinte páginas do seu "Que importa a fúria do mar", já cá cantam: decentes mas, por enquanto, não totalmente empolgantes. Um sabor de pastiche na forma, algo perfeitamente natural, já que mal seria que entre Pai e Filho não se transmitissem genes e orgulho. Do Mário, este já cheio de patine, estou a ler o seu último. Uma única palavra: soberbo! Entretanto, basta dar uma volta pela Avenida da República e Campo Pequeno para ver como Portugal definha. Cada vez menos Lisboetas na rua, olhares apáticos e infelizes, incapazes já de resistir à voragem dos anúncios de aumentos constantes e das baixas constantes de rendimento... Já exangues por uma corte feita nos Jotas prometendo-lhes aumentos de combustíveis, sacos de plástico, não mais verdes mas mais caros, mais taxas de INEM, sobrecustos de água, electricidade... que irão sobrecarregar seguros, adormecer vidas, tornar as famílias ainda menos funcionais... Uma loucura genocida, e suicida, sem fim à vista. Numa polis e num burgo, onde a falta de accountability e o mérito e o demérito são como uma pandemia de ébola destrutivo, que se cola e transmite por todo o tipo de apertos, de abraços, de fluidos... E na cidade branca, cada vez mais acinzentada, os cidadãos e a cidadania estiolam. Apenas se vendo a demérita EMEL na sua voragem "criadora, julgada criativa", numa cidade e polis cada vez mais doente, desertificada, a sofrer de anomia, de um tempo de passa culpas e «salve-se quem o puder», que é aquela forma de poder que se estendeu pela polis como uma mancha, como aquele nevoeiro do John, que podia ser de um werewolf, inicialmente de Carpenter».
 © PAS

O QUE LI RECENTEMENTE

A RAINHA GINGA de Eduardo Agualusa é um livro decente, onde se sente investigação numa história decente, recheado daquilo que me pareceu ser a sua maior virtude: a escrita escorreita e a nomenclatura Africana.
Não sendo um livro soberbo é, no entanto, um livro que revela uma escrita q.b. de um escritor certinho.  
 
O Estrangeiro de Camus é um livro sentido muito na linha do existencialismo Sartriano, mau grado Camus ter rejeitado essa classificação.
Um livro que pode definir-se nas últimas palavras do personagem Meursault, palavras de reconhecimento da indiferença do universo em relação à humanidade
Como se essa grande cólera tivesse lavado de mim o mal, esvaziado de esperança, diante dessa noite carregada de signos e estrelas, eu me abria pela primeira vez à terna indiferença do mundo. Ao percebê-la tão parecida a mim mesmo, tão fraternal, enfim, eu senti que havia sido feliz e que eu era feliz mais uma vez. Para que tudo fosse consumado, para que eu me sentisse menos só, restava-me apenas desejar que houvesse muitos espectadores no dia de minha execução e que eles me recebessem com gritos de ódio.
©PAS

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

LETRAS SEM TETRAS (O NOVISSÍMO DE MÁRIO DE CARVALHO)


Sentado no sofá circular de uma grande superfície tive oportunidade de ler as primeiras setenta páginas deste livro de Mário de Carvalho.
Um "manual" completíssimo para todos os putativos candidatos à escrita.
Mário de Carvalho como um dos decanos da escrita ficcional cumpre assim o papel de deslindador dos diferentes estágios dessa coisa de ser escritor.
O modo como percepcionar cada um dos seus capítulos deste «Quem disser o contrário é porque tem razão - Letras sem tretas, guia prático da escrita de ficção», poderá ser um indicador mais ou menos fiável perante a sua capacidade de compreensão de alguns dos dilemas, enigmas e perplexidades do ofício descritos. Um livro muito útil que, não sendo um elucidário de escrita criativa, exigirá do putativo candidato sempre mais do que uma leitura.
© PAS

MOOLB NUMA GARRAFA (MESSAGE IN A BOX)



É bom ouvir impressões positivas das obras que se escrevem com gosto.
MOOLB, O REVERSO, é um livro do tempo escrito para o tempo.
Uma necessidade de uma escrita por vezes dura, descritiva mas reflexiva, fugindo ao estereótipo do tempo romântico, abarcando os nossos maiores horizontes: o EU!
Não é um livro fácil, mas também quem quer um livro fácil se sabemos que só podemos conhecer e conhecermo-nos para além da linha do horizonte?
O EU que está sempre connosco, e o novo EU do novo retorno ao nosso espaço geográfico.
Por mais que digam e se façam desentendidos é sempre bom pensar que uma mensagem dentro de uma garrafa chegou a um qualquer porto de destino.
© PAS (Pedro A. Sande)