Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Breakfast at Tiffany's...with Sammy!

Deitei-me ontem com Truman Capote e o seu Breakfast at Tiffany's. Ao pequeno almoço, aqui no bairro, espero ter debatido suficientemente com Holly Golightly para saber o que a faz correr, como a Sammy.
O que faz correr Sammy do novelista Americano Budd Schulberg faz-me pensar como de tempos a tempos é hora de revisitação de leituras da nossa juventude.

A espuma dos dias: «O regresso»

Ao longe
O tempo desmente
Ter estado escondido.
Mas ele lá está
Por entre as folhas
No orvalho caído.

Escondido como
Que por vergonha,
Ou por medo,
De se ter feito esquecido
Quando o que precisávamos dele
É que fosse mais comedido
Na sua passagem
Por entre os poros
Que revestem
O nosso caminho.

Ao longe
O tempo desmente.
Mas quem é ele
Para negar
O que sentimos
Ou para desfrutar
Os frutos
Da nossa vida?

Vai-te tempo,
Esconde-te!
Por entre as vielas
Da minha vida
Unta-me as mãos
E o rosto
Aligeira-me os sentidos,
Faz-me teu amigo
E não desperdices,
Aquele rumor
Que perpassa em nós
E que nos arrasta,
Aquele zumbido
Baixinho,
Que canta à nossa porta,
E que nos sussurra ao ouvido,
«Eu sou
A espuma dos dias!»

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Maravilhas de Portugal E A Demasiada Entronização Para o Eu

Este ano está - me a acontecer algo de estranho: escrever dois livros à vez, quase como se estivesse na guerra do Solnado!
E isto para não contabilizar o terceiro que sai da intensa pesquisa do primeiro e dos acertos finais de uma tese de mestrado!
Preocupa-me, no entanto, a minha última visita àquela jóia de livraria que é a Bertrand do Chiado, às moscas, à excepção do zumbido - baixinho - de um grupinho de funcionários entediados.
Valeu uns turistas não nacionais, daqueles que aparentemente gostam de livros, que fotografavam deliciados a Bertrand de alto a baixo.
Será que eles iriam gostar de alguns dos nossos autores recentes que vivem muito menos para as suas estórias e muito mais para um eu introspectivo passado para rascunho?
Sobre este assunto perguntava-se há tempos sobre os nossos autores - escritores no exterior: porque singram tão poucos? 

domingo, 12 de agosto de 2012

Os Vampiros Também se Abatem!

O abate de 120 dos meus Vampiros pelos 18 livros de Alexandre Herculano! 
É isto um ratio aceitável, um estupendo Trade - Off?
Para mim, pelo menos parece-me!
E ainda há quem pense que só se consegue afastar Vampiros com muito alho e cruzes tiradas dos altares?

Jogo De Damas, Por Abel Manta


     Naquela manhã de 1927 jogava às damas, na minha mesa de mármore redonda de pés de ferro, na marquise, com aquela minha bela dama pé de cabra
     O tabuleiro parecia-se com o chão de tijoleira: o que me distraíra, nos últimos passes e jogadas e me pesava nos ombros.
A minha companheira, sentada numa cadeira de braços arredondados, sempre tão presente e concentrada para a vitória, assentava o seu punho fechado contra a face - o que lhe valia já uma vitória a curto prazo!
     Já esperava dela a qualquer momento, a seguinte provocação:
     - É Dama, Abel... É Dama! Pintei-te mesmo a manta, meu franjinhas soneca, ao ter-te distraído com as tonalidades da tijoleira! 
     «Pois é! Eu, Abel Manta, ficara sem estratégia ao ver a forma como me enfrentava, pernas graciosamente cruzadas e mão a descair para a perna da cadeira.»
      «Que dama aquela!», suspirei baixinho, entregando as minhas peças às suas mãos manipuladoras.

sábado, 11 de agosto de 2012

Ministro da Felicidade

- Ontem, lá estive!... fechado numa biblioteca horas a fio a pesquisar, para memória futura.
- Sozinho? 
- Não, pelo menos enquanto não adormeci os sentidos; depois, rodeado de cinco sinistros, que são tantos quantos os que me deixam abraçar a um mesmo tempo. De saída, dei de caras como já tinha dado, com uma figura frágil, pequenina, graciosa, montada num enorme e atraente sorriso. 
- Hum!
- Já não é a primeira vez que, na hora do shutting down, esse sorriso agradável se encontra com o meu e me povoa em flashes a memória. 
- Como é bom um sorriso na hora certa! 
- É! Se eu mandasse e pudesse ser ministro da economia da felicidade, decretaria que ninguém podia sair à rua sem um sorriso na cara!

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Caminhos!

Olhei à minha volta. 
Temi que tivesses desaparecido,
e que nunca mais tivesse o prazer 
de te sentir minha. 

Olhei à minha volta, 
e nada é como dantes!
Trouxeste já em ti uma enxovia, 
com que já não sei lidar, 
entretanto.

Tornaste-te mulher,  
assertiva, 
segura, 
fria, 
se já o não eras dantes?
E deixaste de ser o meu amor, 
a minha intensa busca 
e porfia. 

Envolta nesse doce rótulo 
de seres, 
tu eras a minha amada 
concubina! 

Olhei à minha volta!
E a pouca atenção que me deste, 
está, infelizmente,
votada ao abandono;

espalhada 
por mil caminhos, 
rodeados de uma floresta densa,
de impenetráveis madre - pérolas, 
que seguem outros abrigos, 
outros trilhos...

que o meu olhar
mesmo que queira,
é fraco de visão,
e não penetra!
 

sábado, 4 de agosto de 2012

Desilusão e Antagonias

«Quanto mais inserida estou nesta triste sociedade, amorfa, passiva perante todos os abusos que num passado, não sei já se muito ou pouco recente porque há factos que me confundem o tempo com as emoções que geram, eu não via, mais necessidade tenho de me afastar dela, mais anseio as coisas simples – as árvores; os rios; as aldeias; as hortas; os pinhais que ladeiam certos lugares; os pomares; o céu que se abre azul nas manhãs carregadas de uma brisa doce que antecedem os dias quentes de Verão.»
O que fizemos nós para merecer tal desilusão?
Será que esta desilusão não existiria já, só a não queríamos ver, toldados que estávamos perante o egoísmo de estarmos felizes connosco próprios?
Perdemo-nos assim, pois e invariavelmente, no caminho?
Ou será que o caminho que seguíamos não era já sustentável?... Não o da insustentabilidade que alguns confundem com a insustentabilidade material, mas com essa mais funda que é feita de valores e pergaminhos... só que o não sabíamos!
Talvez a desilusão seja o resultado de olharmos ao espelho e não gostarmos do que vemos, porque a desilusão são os nossos actos e omissões, mas há que, com esperança, cantar por todo o lado:
«há desilusão, segue sempre um novo horizonte, mais brilhante e puro, se tomarmos a esperança como a razão profunda da nossa existência!» 

Catalogar Empaticamente

Ontem depois de deparar com este abraço da escrita, do José Luís extensível a todos os leitores, parei numa banca e fiz empatia literária comparada  de autores portugueses, muito contemporâneos, vivos (que com os mortos rezaria, por ventura, outra história! Ai, saudades, para não recuar mais longe, do José Cardoso, do José Saramago, do Carlos, do Bernardo, do Stau, da Sofia, do Eugénio, do Miguel Tor...)
Numa extensa banca repousavam horizontal e verticalmente escritores e poetas portugueses com os seus «queridos filhos». Nada diferenciava entre vivos e mortos, porque aqui só os vivos tinham lugar; os mortos aparentemente, no entanto, começaram a ficar escondidos como se os livreiros tivessem medo de já estarem a exalar qualquer odor pós - mortem desagradável; como se o odor destes mortos não tivesse entranhado nos vivos.
Nunca me atreveria a pontuá-los de 0 a 5, e porque não?,  se essa pontuação era só minha! (e sempre passível de mudança, que o absoluto nem o céu!) 
Mas há algo que é muito mais justo: procurar cativar-me pela empatia «dos seus filhos». E por empatia, seriava os autores que estavam visíveis na mesa. 
Assim, seriava: o Mia, o Gonçalo, o Manuel, o Domingos, o José Rodrigues, o Rentes, o Valter, o João Ricardo, o José Luís... 
O problema, entretanto, era que a banca não era suficientemente larga, nem suficientemente extensiva, para a seriação de todas as empatias escondidas e não visíveis... e elas são muitas, a começar pela querida dona da casa das horas extraordinárias, que foi há pouco uma agradável surpresa pela descoberta generosa e graciosa da sua escrita: escorreita, medida, extirpada de gorduras, q.b., confluente, simples e totalmente harmónica ... da sua prosa e poesia!
Como acredito na reencarnação das almas, doadas aos vivos (que só não sei se chamarão de almas), concedo, no entanto, que o crédito aos vivos tem de ser estendido aos mortos. 
Quem sabe se ao Gonçalo não terá afluído a alma de Camões, que lhe renovou os votos de uma nova, por saudosa, Viagem à Índia? Ou a Maria do Rosário a de uma Florbela Espanca? Assim, para todos os escritores vivos a mesma nota: a Nota 5, que é uma nota muito de acordo com todas as alminhas que andam por aí a espalhar perfume por entre os contemporâneos. 
E isto, partindo do princípio que é condição de entrada no céu a descontaminação de todas as maldades e vírus que se apanham aqui na terra. 
O Abraço do José Luís? Está muito bem! É um  abraço à humanidade, um  sinal de pedido a todos os que nos rodeiem, que continuem a cuidar bem de todas as almas que entram e saem em cada leitura dos nossos livros!   

Palavra e Imagem: Senhoras do Mesmo Corpo!

Algo sempre muito estranho para mim foi sentir as palavras como imagens.
Um pequeno trecho de prosa, transforma-se sempre num pequeno naco de escrita, que é como quem diz num quadro, onde as palavras mudam de tom, consoante são pintadas a uma outra escala ou outro tipo de desenho, ou de pigmento de letra.
Também sentes que as palavras são apenas imagens que se desenham?  

Poesia: Essa Cadente e Sincrética Musicalidade

Num mês em que os blogs mais atractivos fecharam para descanso dos seus mandantes, é bom poder recorrer aos seus históricos; que para além de nos aguçarem o apetite para futuros próximos, recordam-nos como são certas as saudades do futuro que permitem, no silêncio destes espaços fechados, estas conversas didácticas connosco próprios: um muito obrigado à sua autora, que muito faz pela linguagem escrita, mesmo nas muito merecidas horas vagas.
«A poesia é, quanto a mim, muito mais do que as palavras que contém. Se quisesse ser apressada – e agora dá-me jeito sê-lo – diria que, comparada com a prosa, a poesia diz normalmente mais com menos. Claro que nem toda a poesia é assim e nem toda a prosa é assado, mas há uma cadência e uma musicalidade na poesia que, uma vez por outra, quase nos dispensam de ler ou ouvir as palavras que se deitam nos seus versos...»
Para quem gosta de poesia e a liberta, cadência e musicalidade são as definições certas: mas e essa compressão das palavras, essa síntese? 
Essa síntese que me faz lembrar o processo metamórfico das rochas, donde se soltarão sedimentos que inundarão as nossas praias. E como todos somos donos de praias, mais ou menos extensas, onde nos espreguiçamos e refrescamos!  Metamorfismos, sedimentação e metamorfose das palavras: essa metamorfose que faz-me sempre lembrar extensos prados, onde correm cavalos selvagens à solta, sem qualquer tipo de freios nos dentes. 
E como é musicalmente cadente e simples a liberdade! Neste ou noutro mundo, os sedimentos serão o que restará de nós quando formos largados ao vento, prontos para um novo processo de «completamento» da terra - mãe?
Somos ou não apenas pequenos pedaços desta terra que se transforma? Feche os olhos! Somos ou não apenas cadência, musicalidade e síntese? 
Há quem ache que somos também ritmos, aliterações e assonâncias, ... 
poupem-nos senhores, que somos apenas palavras bonitas sem academia! 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Nunca A Terra Há-de Vazar Para o Mar Os Seus Piores Peixes

Lembrar hoje o Quinto Império, por melhor que seja a intenção, pode parecer pura maldade, num tempo que ainda desesperamos por uma Quarta República, asseadinha, em que a verdade porque morreu D. Sebastião não se chame ainda, delírio e arrogância.
Bem pregou, antes das saudades de Pessoa, nos seus Sermões, o pobre Padre António Vieira: mas a terra nunca há-de vazar para o mar os seus piores peixes!

José Adelino Maltez: Poeta e Pensador!

Um dos meus poetas e académicos preferidos é o José Adelino Maltez desde que deitei a mão, numa feira do livro, há alguns anos, ao seu manual de Relações Internacionais em dois tomos.
Pela sua poesia? - pergunto eu por alguns.
Sim pela poesia! - não da que emana exclusivamente dos seus editados 5 livros de poesia, mas sobretudo de obras como Tradição e revolução: uma biografia do Portugal político do século XIX ao XXI, Biografia do Pensamento Político, Tudo Pela Europa Nada Contra a Nação, ...

É que há obras de história política, filosofia política, análise política... onde a prescrutação íntima do interior das coisas usa a poesia a seu benefício, como veículo vaivém de ida e volta, expedito e eficaz: é aqui a poesia como um vagão, só ele capaz de extrair a mais recôndita riqueza das entranhas do ser.  

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Morreu Camões O Cão Do Saramago Da Caverna

Morreu Camões, o cão de Saramago, o cão do Saramago da Caverna: ou será que foi Camões, o cão da Caverna, de Saramago? Foi - nos, aqui, anunciado por Pilar! 

- Ah, Camões que andaste andrajoso pelas ruas, como um cão a quem tratam como cão! Já o encontraste, tu que uivaste sentindo o destino do teu dono, já encontraste o teu amigo? 
- Ah, Camões, ouviste Pilar no outro lado? Sente agora como é esvoaçar ao vento,  em cada pedaço de vento que te afronta o focinho!
- Pois, não, meu dono. Há sempre um momento em que voltamos a estar juntos! Um dia será Pilar... e Pepe... e Greta... que aqui estarão connosco, fugidos ao abandono da verdadeira caverna que habitávamos.

Patas - Chocas

Um exercício interessante para quem acha que ser escritor é ainda uma condição de estrela, é somar nomes aos nomes de todos aqueles que tem editado ao longo dos últimos anos: são aos centos como as patas das centopeias!
Ser escritor parece ser, assim e apenas, um diálogo infinito entre o autor e as pontas dos seus dedos, um diálogo diário com as suas diferentes personagens... 

- Se precisa de outras personagens que se queiram intrometer? Serão sempre bem vindas se assim o desejarem!

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Curta, Mas Admirável

Não é muito usual admirar uma mulher... alto lá!... para além dos atributos físicos e intelectuais que possa ter, relativamente a uma enorme capacidade de contar... contos e irradiar perfume, um perfume feito de simplicidade, mas daquela simplicidade que atrai.
Na minha idade que não é grande, mas também já não é pequena, pode parecer a ingenuidade de um homem emocionalmente pequeno ou que nunca encontrou no belo sexo, um belo interior que percepciona como gémeo. 
Curiosamente, ou talvez não, encontrei algo que me apaixona, porque penso que é uma capacidade assaz rara: um domínio enorme analítico das coisas na simplicidade, que só um poeta, ou neste caso uma enorme poetisa podem ter.
E curiosamente, ou talvez não, encontrei uma incongruência no discurso relativamente à prática descritiva dessa mulher: é que dez linhas chamam nela mais a atenção, que uma novela de duzentas páginas; e, assim, as editoras andam "mercantologicamente" enganadas ou nas mãos dos marketeers! 

Escritor De Gaveta: Entre o Desejável e o Possível

Nunca li nada de Luís Caminha, o autor da Decadência Dos Olfactos que dizem valer a pena. 
Na altura em que vejo no seu blog, a frase abaixo, preocupa-me uma frase conteúdo ensinamento de uma editora literária, como aprendizagem dos autores que querem ser publicados no hiperespaço, fora do espaço restrito do umbigo: «os leitores não querem ler livros depressivos, porque para isso já basta a vida!»
Terrível, esta frase, mas compreensível, num mundo forjado de equilíbrios entre o desejável e o possível, entre a vida, a morte e a sobrevivência de coisa animadas e inanimadas.
Terrível, também, pelo que significa de uma literatura que, para a ser, parece estar pré - determinada, domada e incapaz de chama libertadora fora do establishment e de um quadro mental, mesmo que inconscientemente cultivado.

A frase de Caminha:
«Sim, Luís Caminha, o nome em que vivo há doze anos, é escritor de gaveta. E é a ela que regressa neste 19 de Julho de 2012.»

Nem Só de Pão Vive O Homem

Neste período de férias, para alguns, em que muitas portas se fecham, alguma tem de ficar aberta a fornecer alimento à verve.
Esta porta resolveu, assim, continuar a fornecer os pãezinhos de verve, mesmo que molezinhos e levezinhos, que Nem Só de Pão Vive o Homem.
Esta frase, que tanto diz aos católicos, foi título de livro e ficou-me sempre na memória, já que constava como título de um livro da biblioteca dos meus avós.
Do autor perdi-lhe o rasto, embora me tivesse sempre parecido que pertenceria ao autor das Vinhas da Ira, A Leste do Paraíso, O Inverno Do Nosso Descontentamento e Viva Zapata!, o Americano, John Steinbeck. 
De John ficaram-me os livros e os filmes alusivos à grande depressão Americana, com contornos parecidos na acção com esta grande depressão europeia que pela interdependência da globalização se está a tornar mundial, e a sua caravana de nome Rocinante, através da qual o autor atravessou os Estados Unidos recolhendo, a passo, trote e galope, impressões sobre a América profunda. 
Assim fica o mote para o dia: quem escreveu o romance, Nem Só de Pão Vive o Homem?