Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

segunda-feira, 27 de maio de 2013

(Livro de Nós!)


Este pequeno excerto é parte de um novo livro cujo título provisório é o acima (Livro de Nós; pág.70,71; PAS) e que já tem um título definitivo no segredo dos deuses - mas só daqueles que cuidam dos amantes. 
À laia de agradecimento dizer que este livro não seria possível (pelo menos não da maneira escorreita com que flui «a tecla»), se ainda não houvesse entre os homens e mulheres, paixão, arrebatamento, identificação e amizade genuína. 
Todos os livros no fundo, são livros de nós e este ser-te-á dedicado (se o aceitares!)  

«E ele fazia-lhe mentalmente a revisão dos poemas e anotava-os e preenchia-os, como se pegando num baile para uma dança um outro corpo e pudesse ficar toda a noite a rodopiar, fazendo dos dois, um. Era como uma espécie de pingue - pongue sentimental, um duo poético que nunca se encontrara face a face, um mar de amor como ela lhe chamara. Ele entregava-se totalmente, parecendo como homem vivido que era, querer esquecer e contrariar aquilo que já sabia e as feridas que também lhe tinham sido infligidas e que alguns, cinicamente, dizem nos fazer mais fortes - mesmo se muitas vezes nos torna incapazes de querer voltar a amar intensamente: é que a desilusão pode abrir novas feridas profundas, nos corações dos homens e mulheres bons.
As noites e os dias fluíam numa melodia aparentemente estranha, a olhares estranhos, mas sentia-se que havia ali uma paixão que iria ter de explodir um dia num fervilhar físico de corpos. Sentia o seu corpo amordaçado como se tivesse sido arregimentado num daqueles rituais de onde os fetiches são reis, onde os corpos são fustigados por sensações enormes de prazer, mesmo se intocados.
Jorge, esse homem não ingénuo, era cúmplice das suas palavras e das suas mensagens e suspirava pela sua continuação, bem como dos seus poemas: «a vida é para beijos intensos, aventuras estranhas, banhos ao luar e conversas profundas».
Um amor cada vez mais forte, indestrutível, mesmo que parecesse estranho a olhar despojado dessa cartilha comum às palavras que criam sonhos, de um fogo comum que os consumia fortalecendo todos os dias.
- Eu amo esta mulher – dizia para si. – E é como se lhe já tivesse desenhado o rosto conhecendo cada traço, cada gesto, cada lugar; e o seu pescoço e os lóbulos graciosos das suas orelhas fossem já para mim como rios de mel, passados ao de leve pelos meus lábios: e quero-a tomar nos meus braços e adormecer nela.
Dito isto, uma lágrima caiu. Uma lágrima que não lhe borrou a escrita, mas lhe lavou, como soro lava uma lente, uma das peças do teclado; efeito dos tempos aos novos amantes.
Edite, também lhe parecia não lhe ser indiferente.
No seu quadro diário constava: «tudo se resume à última pessoa em quem tu pensas à noite. É aí que o teu coração está… porque tu me amas».
As palavras saiam como as cerejas e se da parte de Jorge elas pareciam totalmente sinceras, de uma maneira tão comovente que até Jorge se emocionava, «tu podes ter tudo porque tu me amas», a Jorge ainda lhe faltavam definitivas provas de amor.
Ouvia badalar a todo o momento no seu coração um carrilhão, sim um carrilhão, não daqueles que “sinam” (adorava neologismos), badalam a desoras, anunciando o chamamento à reza ou o respeito aos santos defuntos (todos os defuntos são, como sabemos, santos) mas daqueles que alegram os aldeões, as freguesias, as paróquias, de contentamento.
«Afinal o amor, o verdadeiro, é um lugar onde não se escondem ciladas, nem armadilhas; um lugar ainda possível neste mundo de sombras, ilusões, inverdades, gente cujos valores e confiança são como um mau papel – moeda, de valores de confiança que já nem tostões valem, quanto mais o valor das árvores de cujo papel se fazem».
«É amor!», pensou novamente tentando afastar qualquer dúvida ou engano, «não há como enganar!». Nem ele se queria enganar, apesar de saber que “Quando se tem um bom coração, Ajudas demais, Acreditas demais, Dás de mais, Amas de mais Sempre parece Seres o que se magoa mais”.
E então escreveu-lhe: Não tenhas medo, meu amor Porque nem todos os tempos são iguais Nem todos os homens são iguais Nem todos os tormentos e todos os trovões rugem no mesmo momento E há um dia em que uma estrela Caída do céu Nos fulmina e Nos toma o coração. Não tenhas medo, meu amor, Que um dia a paixão é como esse sol que nos aquece e toma o coração, como uma prenda que nos há - de bater À porta, fiel e lúcida. Não tenhas medo, meu amor, Mesmo que pareça Que já não tens mais lugar Para acreditar, Saberás que eu sou o sol que te irei alumiar E enquanto vivermos te fará brilhar e aquecerá sempre o teu coração».
Nessa noite fechou “o livro” nesse parágrafo.
E colocou em fundo a letra bold: continua... espero!; porque ser-se feliz sempre se espera, mas muitas vezes não se alcança!
O que iria trazer o novo dia foi o seu pensamento enfaixado na imagem da sua amada: já nem se lembrava se alguma vez teria tido outra!» :) 
          ©PAS (Direitos e... Dedicatória Reservada)

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