Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

terça-feira, 26 de março de 2013

Os Peixes Grandes Comem Os Peixes Pequenos

Um excelente tema a exigir uma reflexão panorâmica, ao estilo BBC, «Vida (num mundo) selvagem.» 
Num mundo a múltiplas vozes o espaço autoral também já não é ele um espaço de soberania. A edição «sofre» hoje do fenómeno «globalização», um fenómeno que tanto mata como engorda. No mundo soberano a defesa da honra era local, neste mundo de hoje a defesa da honra é glocal. No tempo pré-moderno os suseranos arregimentavam os seus exércitos através de noções de comunidade de afetos. 
Hoje os «fetos» que deambulam pelas antigas praças são já muito mais coloridos, vindos de lugares distintos e dispersos e não de pequenas aldeias, todas elas muito parecidas, feitas a uma medida quase tribal. A edição tornou-se assim - e também - um negócio glocal. O autor soberano deixou assim de estar dependente de um suserano local que vai alimentando a sua própria casta, ordeira e dependente, e que lhe presta muitas vezes vassalagem não por sintonia, mas por um interesse de sobrevivência. 
Há um autor, sociólogo, muito dado a temas de globalização, cidadania e identidades com um pensamento muito pouco «mainstream», muito «out of the box» e que merece uma visita de interesse: Boaventura Sousa Santos. Formula o autor a globalização em dois tempos: o tempo do localismo globalizado (quando determinado fenómeno local é globalizado com sucesso) e o globalismo localizado (quando as condições locais se desestruturam e reestruturam de modo a responder a esses imperativos transnacionais). 
E é neste tempo/lugar que estamos hoje. A pequena tempestade deu lugar ao tornado relâmpago; o pequeno pingo, à carga de água mais brutal. Pelas veredas da montanha o estrato vegetal é arrastado e substituído pelas pedras (calhaus?) mais angulosos, comuns (rafeiros para alguns), a maior parte das vezes estranhos à paisagem. Mas a paisagem aos poucos irá se transformando, reestruturando gostos, eliminando gostos, espaço - temporalizando o mundo a um globo que nos caberá na palma das mãos. Até o porco já não será (é) só porco-preto, a sua denominação de origem já o encontra com outros padrões em outros tantos lugares. Aliás já não o era desde que o muppet - show nos deu a conhecer a figura do sapo cocas e de miss Piggy: as suas cores de pele não desmentem a sua proveniência. 
 Vivemos no mundo da financeirização, em que tudo se compra e tudo se vende. E é por isso que precisamos cada vez mais de pequenas aldeias locais imunes e resilientes à normalização empobrecedora. 
Aos grandes grupos suceder-se-ão os pequenos glocais, (de nicho), cujas poções mágicas derrotarão as hordas mais substantivas. E essa poção mágica só tem um nome: qualidade. Qualidade que tem o seu tempo de maturação, o seu tempo de paciência e espera. 
Nada é excludente: tudo se complementa. 
E tudo se transforma e se democratiza: até a escrita.

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