Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Shabat Literário

Lapalisse diria que só se é escritor, escrevendo. No meu mundo de escalas, não há lugar para o absoluto. Tudo é demasiado relativo, o absoluto mora num lugar improvável que possivelmente só conheceremos em morte. Dificilmente digo que «não gosto», facilmente extraio alguma beleza da fealdade de que dizem existir e de tudo o resto que nos rodeia. Li quase todos os livros do João por ordem temporal: a sua maturação não passou despercebida. Noto, de obra em obra publicada, uma ligeireza e harmonia cada vez maior. É essa harmonia que faz o escritor. Uma harmonia conquistada, aprendida e apreendida todos os dias. Só se é escritor, escrevendo; e escrevendo muito, seja-se publicado ou não publicado, animal de raça ou rafeiro. O nosso olhar vai-se tornando cada vez mais arguto, as palavras jorram cada vez mais escorreitas, a trama é um lugar cada vez mais sólido e coeso. Na nossa cabeça a consolidação do processo vai-se harmonizando, o objectivo final, totalmente não alcançável, infinito, funciona por incremento, por aproximação infinitesimal – nada de muito original, aliás, como em toda a aprendizagem. João Tordo, na minha relativa avaliação, é mais enredo e menos poesia; é mais «estória» e menos espontâneo; é mais escrita de ardil, ardilosa no sentido de um escritor de arrumação de conteúdos, com um padrão visível de escola. João é um profissional, um operário em construção, que constrói a casa não pelo topo, mas pela base. E seja pelo topo, ou pela base, a construção de uma «estória bela» só tem de resistir como na história das três casas, «como poderia ter sido nas três vidas», ao sopro do «lobo»: seja ela de palha, de adube ou de tijolo, o que interessa é a sua beleza harmónica interior e exterior.     

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