Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Dinis, Molero

Hoje, o Bookoffice publica a resposta do João Ricardo Pedro ao questionário de Proust, revisitado por Joel Neto. Ouvi uma vez o João ao vivo, e não me passou nem despercebido o seu humor, nem um certo desconforto por alguma falta de independência e de enfado pelas tarefas, exigência, do - pós atribuição do prémio LeYa; afinal, não há almoços grátis como esconjura o racional «homo - economicus». Tudo, condimentado com alguma ansiedade e até alguma dúvida assumida, honesta, pela sua continuidade na escrita publicada pois, como se sabe, «uma andorinha não faz a primavera».
E os três anos que assumiu com hombridade ter demorado a escrever o seu premiado livro, revelam um talento evidente, mas igualmente um sofrimento de trabalho artesanal feito com risco de não replicação, apesar da motivação «simpática» e acrescida. Concordo, também, como ele afirmou numa «mesa pouco redonda», de que ao autor nada mais devia ser exigido senão o acto de escrever. Mas compreendo que isso seria linguagem de marketing da oferta, não linguagem do posicionamento pela procura e quando as oficinas de escrita eram oficinas e não cadeias de montagem. 
Como compreendo igualmente o posicionamento das editoras num mercado de excesso de oferta, procura por defeito, défice de rendimento e/ou défice de leitura, num mundo «a deitar fora, livros, pelas costuras» bem, assim, com a cada vez maior dependência da imagem/comunicação como forma de «vida».
Assim se compreende, também, como a aposta que economicamente é o risco da editora, num novo escritor, tem de apontar para previsão de número de vendas que equilibre o actual esquema de Ponzi desta actividade. Assim se percebe «a fuga para a frente» das editoras, no futuro próximo ou neste presente «agora», para a venda de serviços editoriais, de «editing», de revisão, de comunicação,...    

Ser escritor publicado trás, assim, hoje, exigências muito para além da escrita. Obrigando a uma exposição que não é do inteiro agrado do escritor que se não se mova por pedantismo ou excesso de vaidade, já que a vaidade sem demasia é um factual «fillet» humano.
Comum ao afirmado pelo João é a minha cada vez maior dificuldade em reter e memorizar conteúdos de leituras. Talvez por ter um caldeirão já demasiado cheio, e sentir a necessidade de o ir aliviando e «soltando» como as panelas de pressão. O que torna a leitura diária um quase descartável, sendo a influência cada vez mais submergida num edifício, sempre incompleto, mas com ideias cada vez mais definidas que barram, pelos menos aparentemente, muito do «aspirado» e pouco deixam passar de inspirado.
Achei também graça, no questionário de Proust, à coincidência da sua resposta a esta pergunta: 

«E qual o parágrafo que mais lamenta não ter sido você a escrever ou, pelo menos, a frase?»
O Que Diz Molero, de Dinis Machado. «"Acho que todas as pessoas são mais ou menos infelizes", disse subitamente Mister DeLuxe, “mas os artistas são infelizes de uma maneira dramaticamente infeliz”. “Isso é muito agudo, Mister DeLuxe”, disse Austin com um olhar brilhante, “a isso apetece-me mesmo chamar uma definição”.»

Achei graça pela coincidência. Há cerca de seis meses entreguei uma cópia para submissão à edição de romance meu, escrito numa linguagem próxima de «O Que Diz Molero».
Escrito num mês e finalizado em Abril deste ano, o romance despretensioso, ainda quase em bruto, pretende ser uma homenagem a Dinis Machado, um escritor considerado menor até à publicação desta sua obra, um homem que é, para mim, um símbolo da grandeza e miséria do escritor, e da volatilidade da escrita. Dinis e Molero que li depois da sua morte e cuja obra cintilou na minha vida, a espaços, na minha memória.
Não tendo ficado no quadro de honra da rentabilidade, num país onde os livros se acumulam em catadupa nas livrarias antes de serem condenados à guilhotina, irei possivelmente o dar a conhecer como e  - book
Em memória de Diniz Machado e como um atestado de um exercício simplificado de escrita despretensiosa e humorada, esperando fazer que os mais novos revisitem DINIZ MOLERO.  

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