Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

sábado, 4 de agosto de 2012

Catalogar Empaticamente

Ontem depois de deparar com este abraço da escrita, do José Luís extensível a todos os leitores, parei numa banca e fiz empatia literária comparada  de autores portugueses, muito contemporâneos, vivos (que com os mortos rezaria, por ventura, outra história! Ai, saudades, para não recuar mais longe, do José Cardoso, do José Saramago, do Carlos, do Bernardo, do Stau, da Sofia, do Eugénio, do Miguel Tor...)
Numa extensa banca repousavam horizontal e verticalmente escritores e poetas portugueses com os seus «queridos filhos». Nada diferenciava entre vivos e mortos, porque aqui só os vivos tinham lugar; os mortos aparentemente, no entanto, começaram a ficar escondidos como se os livreiros tivessem medo de já estarem a exalar qualquer odor pós - mortem desagradável; como se o odor destes mortos não tivesse entranhado nos vivos.
Nunca me atreveria a pontuá-los de 0 a 5, e porque não?,  se essa pontuação era só minha! (e sempre passível de mudança, que o absoluto nem o céu!) 
Mas há algo que é muito mais justo: procurar cativar-me pela empatia «dos seus filhos». E por empatia, seriava os autores que estavam visíveis na mesa. 
Assim, seriava: o Mia, o Gonçalo, o Manuel, o Domingos, o José Rodrigues, o Rentes, o Valter, o João Ricardo, o José Luís... 
O problema, entretanto, era que a banca não era suficientemente larga, nem suficientemente extensiva, para a seriação de todas as empatias escondidas e não visíveis... e elas são muitas, a começar pela querida dona da casa das horas extraordinárias, que foi há pouco uma agradável surpresa pela descoberta generosa e graciosa da sua escrita: escorreita, medida, extirpada de gorduras, q.b., confluente, simples e totalmente harmónica ... da sua prosa e poesia!
Como acredito na reencarnação das almas, doadas aos vivos (que só não sei se chamarão de almas), concedo, no entanto, que o crédito aos vivos tem de ser estendido aos mortos. 
Quem sabe se ao Gonçalo não terá afluído a alma de Camões, que lhe renovou os votos de uma nova, por saudosa, Viagem à Índia? Ou a Maria do Rosário a de uma Florbela Espanca? Assim, para todos os escritores vivos a mesma nota: a Nota 5, que é uma nota muito de acordo com todas as alminhas que andam por aí a espalhar perfume por entre os contemporâneos. 
E isto, partindo do princípio que é condição de entrada no céu a descontaminação de todas as maldades e vírus que se apanham aqui na terra. 
O Abraço do José Luís? Está muito bem! É um  abraço à humanidade, um  sinal de pedido a todos os que nos rodeiem, que continuem a cuidar bem de todas as almas que entram e saem em cada leitura dos nossos livros!   

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